terça-feira, 31 de agosto de 2010

o casamenteiro.

CENA 1. INTERIOR/ ESCRITÓRIO DE AUGUSTO/ DIA.
A câmera abre em um quadro com a imagem de Santo Antonio que está localizada atrás da mesa de trabalho de Augusto. Nesse mesmo quadro reparamos no letreiro: “Santo Antonio Casamenteiro das Causas Perdidas”. Nesse mesmo movimento a câmera vai abrindo lentamente e já podemos perceber Augusto e Rosane. Ele em torna de uns trinta e cinco anos e ela em torno de uns sessenta. Ele em sua mesa e ela à frente sendo atendida pelo mesmo. Em toda ação é evidente como eles conversam com extrema seriedade.

ROSANE – Filha minha não casa com filho de jogador.

AUGUSTO – Engraçado... Eu achei que esse fosse o pretendente que você mais ia gostar.

ROSANE – É... Mas eu tive uns problemas com jogo na minha família e peguei um certo trauma, sabe?

AUGUSTO – Perfeitamente, mas o fato do pai ser jogador e ter perdido tudo em uma mesa de pôquer em Mar Del Plata, não quer dizer que o filho é jogador e vai perder tudo em uma mesa de pôquer...

ROSANE – É, mas cada vez que eu olhar pra cara dele eu vou me lembrar do meu pai perdendo tudo em uma mesa de pôquer... Carro, casa, filha... Enfim, Não existe outro pretendente?

AUGUSTO – Existir? Existe, mas o plano que você vai pagar não lhe dá muita opção de escolha... E você tem que pensar que todo mundo tem um defeito... Só que a nossa corporação se propõe a mostrar esse defeito antes do casamento!

ROSANE – Claro que sei... Mas será que você não encontra aí no seu arquivo alguém que não tenha possibilidade de ser preso?

AUGUSTO – Olha aí eu acho difícil porque se bobear até a senhora tem motivo pra ser presa, com todo respeito! Eu só não acredito que os homens que procuram a nossa agência sejam tão bom elementos assim. Mas eu posso ver pra senhora, os melhores pretendentes dentre os candidatos do seu plano de pagamento.

ROSANE – Faça isso, por favor!

Augusto abre uma gaveta e tira uma pasta branca bem grande. Ele começa a procurar e tira rapidamente uma ficha de inscrição (já preenchida).

AUGUSTO – Esse aqui é interessante! Pseudônimo: “Rominha”.

ROSANE – Me fala um pouco mais sobre ele!

Augusto vai lendo a ficha.

AUGUSTO – Claro! 1,85 de altura, alvo, forte, olhar sedutor... A propósito, foi ele que preencheu a ficha... Eu só leio.

ROSANE – Naturalmente!

AUGUSTO – Retomando, Situação financeira estável, (vai falando lentamente, como se estivesse mastigando as palavras) e duas passagens pela polícia.

ROSANE – Pelo o que?

AUGUSTO – Apropriação ilegal de imóveis e lavagem de dinheiro.

ROSANE – Ah! Não é tão pesado assim... E hoje em dia ele faz o que?

AUGUSTO – Ele falsifica vodka. Que por um lado é bom porque de sede a sua filha nunca vai morrer, mas por outro lado é ruim, porque ela pode morrer de cirrose.

ROSANE – É verdade... Você não tem alguma coisa que de mais dinheiro ou até seja mais tranqüilo? Como CPI, Mensalão...

AUGUSTO – Olha, eu até tenho, mas vai além do plano que você pode pagar.

ROSANE – Quanto mais eu tenho que pagar por um plano mais caro?

AUGUSTO – O próximo plano é o Simple Married Plus. Você está no plano Simple Married. O que daria uma diferença de... (Augusto pega a calculadora e faz as contas) cento e setenta e cinco reais. Pouca coisa...

ROSANE – É mais pra quem já pagou mais duzentos e noventa reais pelo Simple Married sai um pouquinho caro, não é? Mas vamos lá... Abre essa pasta!

AUGUSTO – Você sabe que pra eu abrir uma pasta, somente mediante pagamento.

Rosane da um suspiro e retira da carteira cento e setenta e cinco reais, entrega a Augusto. Ele confere e coloca o dinheiro dentro da gaveta. Abre a gaveta de baixo e tira uma pasta um pouco menor que a primeira de cor amarela. Já abre essa pasta e retira um punhado de fichas de inscrição. Enquanto isso, Rosane vai falando.

ROSANE – Seria tão mais fácil que ela tivesse encontrado por si só... Mas imagina, trinta e seis anos e nunca teve um homem! Homem está realmente difícil...

AUGUSTO – Pois é... Se tivesse fácil eu estaria desempregado! Vamos lá... Eu tenho um ótimo aqui!

ROSANE – Q            uem?
 AUGUSTO – Pseudônimo: Angel. (lendo) “Pareço um anjo exuberante que acaba de levantar vôo em direção ao infinito”.Olha, ele é poeta! “Sou extremamente inteligente, tenho cursos no exterior e sou muito bem de vida”. Meu pai é bicheiro...

ROSANE (interrompendo) – Eu já falei que filha minha não casa com filho de jogador!

AUGUSTO – Eu acho sinceramente, que a senhora está sendo muito radical! O pai dele é bicheiro, ele não perde dinheiro, a não ser é claro que a polícia o pegue, mas fora isso, são as pessoas que dão dinheiro pro pai dele, de certa forma.

ROSANE – É, vai ver o meu pai deu dinheiro pra ele...

AUGUSTO – É vai ver deu mesmo... Mas vamos ao último por hoje, que o tempo da senhora já está esgotando e eu tenho outra cliente aguardando!

ROSANE – Vamos ao último então, espero ter sorte!

Augusto pega a última ficha.

AUGUSTO – Vulgo: “O Homem da Luz”. Alto, forte, bonito. Olhos claros, cabelos curtos e negros. Possui um bom jeito com as mulheres e uma excelente situação financeira! Dono de uma clínica...

ROSANE – Jura?

AUGUSTO – De aborto... Dono de uma clínica de aborto... É dona Rosane... Parece que o dia hoje não esta muito bonito!

ROSANE – Pois é... É só isso que você têm?

AUGUSTO – Por hoje sim, dona Rosane. O tempo da senhora já acabou e eu tenho outra cliente me esperando...

ROSANE – Tudo bem... Eu vou pensar direitinho e depois falo com o senhor... Pode ser assim?

AUGUSTO – Com certeza!

Rosane sai. Corta para:
CENA 2. INTERIOR/ SALA DE ESPERA DA AGÊNCIA/ INTERIOR.
Assim que Rosane sai, ela da de cara com Dora, que já esta em pé pronta para passar da porta.

DORA – Mãe?!

ROSANE – Filha?! Que você está fazendo aqui?

DORA – Que você ta fazendo aqui? Eu posso vir aqui, eu sou solteira! Você, que até onde eu sei, que não deveria estar aqui! Você é casada! Muito bem casada!

ROSANE – Eu não vim aqui por mim não! Vim aqui por você!

DORA – Por mim? Por que por mim? Eu não preciso da sua ajuda não, mãe!

ROSANE – Da minha não! De um casamenteiro! Isso sim que você precisa! Onde já se viu? Quase quarenta anos e não conseguiu arranjar um marido!

DORA – Ai mãe! É verdade! Quem eu estou enganando? Eu preciso de ajuda! Senão eu não vou conseguir um marido nunca! E você encontrou alguém?

ROSANE – Ninguém filha... Só pretendente mau-caráter!
DORA – Qual plano você está pagando?

ROSANE – Eu comecei no “Simple Maried”, mas agora eu passei pro “Simple Maried Plus”.

DORA – Mãe? Tudo que eu estou valendo pra você é um plano “Simple Maried Plus”? Que miséria!

ROSANE – Ah filha! Eu não ando com tanto dinheiro assim na carteira! Aliás, eu não sabia que o “Simple Maried Plus” era tão ruim assim...

Nesse momento, Augusto sai da sala.

AUGUSTO – A senhora está aqui, ainda?

ROSANE – Eu encontrei a minha filha!

AUGUSTO – Não diga! Dora é a sua filha?

DORA – Sim...

AUGUSTO – Bom, podemos então?

ROSANE – Eu infelizmente não vou poder ficar... Eu tenho hora! Mas depois você me conta tudo, ouviu Dora?

DORA – Conto sim mãe! Vai com Deus e obrigada pela força!

Nesse momento entra na sala de espera o Rominha. Bastante diferente de sua descrição na ficha. Ele olha para Dora, ela olha para ele e os dois ficam encantados.

ROMINHA – Oi.

DORA – Oi.

ROMINHA – Rômulo. Mas pode me chamar de Rominha.

ROSANE (estarrecida) Rominha.

DORA – É mãe! Rominha! Prazer, eu sou Dora!

ROSANE (para Augusto) – Ele é um pouco diferente da descrição, não é não?

Augusto tira a pasta embaixo do braço e retira a ficha de Rominha.

AUGUSTO - 1,85 de altura, alvo, forte, olhar sedutor... É, não parece ele mesmo não.

ROMINHA (para Dora) – Você vem sempre aqui?

Dora fica vermelha.

ROSANE – Filha, eu vou indo...

DORA – Vai mãe... Depois eu conto...

Augusto vai cautelosamente até Rosane, que já está saindo.

AUGUSTO – Dona Rosane.

ROSANE – Sim?

AUGUSTO – No caso dos dois ficarem juntos, a senhora vai ter que completar o pagamento!

ROSANE – Por que? Eles se conheceram por acaso!

AUGUSTO – Mas se conheceram dentro da nossa agência. Sem falar, que a senhora sabe o podre dele...

ROSANE – É verdade... Eu pago como?

AUGUSTO – Queira vir pra minha sala e eu passo pra você todas as informações...

ROSANE – Não, mas eu tenho que...

AUGUSTO – É rapidinho, dona Rosane, prometo que não vai demorar!

Rosane vai com Augusto a sua sala, enquanto Dora e Rominha ficam se admirando na sala de espera.
FIM.


por alberto szafran.

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

o processo da humanidade - a poesia.

alberto szafran.

Em seis dias, Deus criou esse mundo infecto.
E como um bom funcionário público,
Descansou no sétimo.
Criou o sol, a chuva e o trovão.
A lua, os animais, Eva e Adão.
Então os dois dexaram se levar pela aparência
A cobrinha atiçou Eva.
(Qualquer semelhança é mera coincidência)
Foram expulsos do Éden e se acasalaram,
Tiveram dois filhos, que se mataram.
Em seguida veio Noé, a arca e o dilúvio enfim.
Eu quero realmente saber,
Onde ele levou o casal de cupim.
Daí o diabo amassou o pão e um monte de gente comeu:
Abraão, Moisés, Jesus e Hermanoteu.
Júlio César criou Roma, a pornografia e foi esfaqueado em um bordel.
Frodo foi com Sam, Sméagol e uma galera destruir o anel.
Sei que não foi nessa ordem, mas Alexandre se assumiu gay.
David matou Golias, fez a estrela e virou rei.
A Igreja apareceu e fez uma grande fogueira de são João.
Matou bruxas, feitiçeiros e judeus no que chamou de "Inquisição."
Maomé foi até a montanha sim e criou o Islamismo,
Hoje temos cem mil terrorista, e isso não é eufimismo.
Colombo descobriu a América, Cabral descobriu o Brasil.
Se Jesus teve algum filho, foi Madalena quem pariu.
Um monte de gente da Espanha veio procurar El Dourado.
Nessa brincadeira, Incas, Maias e Astecas, tudo morreu assassinado.
Daí o diabo veio e amassou o pão de novo.
Criaram os deputados, os senadores e fulanos, tudo eleito pelo povo.
Napoleão então, em seis dias fez da França grande, quando era pequena.
Uma semana depois, tadinho. Morreu exilado em Santa Helena.
Daí a Alemanha se unificou e se tornou um país que sabe o que faz.
Hitler por exemplo, um verdadeiro homem de paz.
Mais tarde, outro povo feliz e grande veio ao mundo.
Quem foi pros Estados Unidos? Meu porteiro, Raimundo.
Revoltado com o trabalho, Lula arrancou o dedo.
Em 2002, Dilma votou no Serra, mas isso é segredo.
Tem muita coisa que queria dizer, mas não vai dar pra citar.
Tempo é dinheiro, o seu é caro e eu não tenho como pagar.
Então pra finalizar, uma pequena observação eu vou fazer:
Se quiser ouvir ótimo, se não quiser, pode querer!
A história da humanidade sempre foi desse jeito e vai indo:
Um fudendo o outro, e você no final, continua sorrindo.



por alberto szafran.

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

artigo 1 - eleições.

Detesto eleições. Sempre acredito que faço amigos íntimos onde posso dividir meu segredos, contar as mais inusitadas situações e depois de um breve período de tempo, ele somem. Somem e só reaparecem quatro anos depois.
Eles fazem você pensar que cresceram contigo, dividiram suas tristezas, compartilharam suas alegrias. É um show de demagogia. "Porque eu vou representar você em Brasília", "Porque você merece mais, meu caro eleitor!". O candidato não sabe nem quem está assistindo ao video, não tem nem idéia onde está passando  e já lhes promete defender os seus direitos. E se isso estiver passando na televisão de um presídio? Em pleno banho de sol? E se estiver passando no meio de uma reunião da OPD? (Organização dos Pedófilos Brasileiros) Ele promete "vou te defender até a morte!" Por isso eu fico tão tentado com esses candidatos. Parece que eles sabem os nossos segredos mais sombrios e não estão nem aí pra isso. Exemplo: "Eu sei o que você passou! Por isso estou hoje aqui!" - Ou seja, ele está se candidatando porque sabe o que você passou. Ele é quase um amante seu. Ele pede o seu voto como quem pede para que pague as suas contas! Talvez seja essa a inteção mesmo... Nós estamos pagando as suas contas...
Aí vem a parte sad do negócio... Eles somem! E só reaparecem quatro anos depois, como os seus melhores amigos novamente, prometendo os mesmo blá-blá-blás. O jogo então é votar em que menos parece ser o seu amigo. Talvez assim, a gente não sinta tanta falta daquela amizade passageira...


por alberto szafran.

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terça-feira, 17 de agosto de 2010

o senhor dos rodoanéis.

"O Rodoanel Mário Covas (SP-21), também conhecido como Rodoanel Metropolitano de São Paulo ou simplesmente Rodoanel é uma auto-estrada de 177 quilometros, duas pistas e seis faixas de rodagem que está sendo construída em torno do centro da Região Metropolitana de São Paulo, na tentativa de aliviar o intenso tráfego de caminhões oriundos do norte e sul do Brasil e que hoje cruzam as duas vias urbanas marginais da cidade (Pinheiros e Tietê), cujo reflexo no tráfego vem provocando uma grave situação de congestionamentos." - Wikipédia.

13 de Agosto de 2010. Zafira prata 2009. Claúdia e Marcos estão na via SP-21 com destino a Ubatuba. Aproveitando a mais nova aquisição rodoviária de São Paulo, ambos estão felizes por não ter que curzar a cidade mais congestionada do país para ter que passar um final de semana em sua casa de veraneio. São 19:40 da noite e a estrada, por incrivel que pareça, está vazia. Se amando muito, os dois passa vinte minutos na rodovia expressa. Só 20 minutos. Eis que surge uma viatura policial á sua traseira. Eles sem entender muito a situação vão em direção ao mais próximo acostamento. Param o carro. Sai de dentro da viatura, mais atrás, dois policiais. Um, perto da guarnição o outro, claro, vai falar com o...
- E aí chefia? - Diz o policial com um sorriso no rosto.
- Qual o problema seu guarda? - Pergunta Marcos ao volante um tanto intimidade.
- Calma rapaz... Só vim conversar com você. Tem problema? Se tiver eu entro na viatura e vou embora!
- Não, não. Por favor, em que posso ajudá-lo? - Pergunta Marcos já sacando qual era a intenção do guarda.
- O problema é que o meu companheiro ali, cabo Inácio (aponta pro cabo mais atrás) acha que tem alguma irregularidade no carro de vocês, eu disse que não, mas ele disse que tinha. Então, pra não contrariar o companheiro ali, eu resolvi parar, só pra saber se estava tudo em ordem. - Explica o guarda.
- Tudo bem? O que eu preciso fazer então?
- Primeiro eu queria algumas respostas. Pode ser?
- Claro.
- Pra onde vocês estão indo?
- Pra nossa casa de veraneio. Em Ubatuba.
- Vocês são casados?
- Noivos. - Diz Claudia no banco do carona.
- Entendi. Isso explica o anel na mão direita dela. Quantos você tem querido?
- 27.
- Perfeito. E vem cá querido, tem alguma coisa no seu carro que não deveria estar no seu carro?
- Não. De forma alguma.
- Se importa se o meu companheiro averiguar a sua mala?
- Não.
Mal Marcos respondeu e o cabo Inácio já abria a sua mala.
- Não falei? i quilo de maconha!
- Como é que é? - Diz Marcos assustado, já saindo do carro.
- Isso mesmo que você ouviu. Um quilo de maconha! - Diz cabo Inácio jogando a droga no chão, a frente de Marcos.
- Mas isso não é meu! Eu nem fumo!
- Que absurdo! - Esbraveja Claudia aterroriazada, saindo do veículo também.
- Um quilo não é nem papo de usuário, é papo de traficante! - Diz o guarda.
- Isso não é não tava no meu carro! - Diz Marcos.
- O senhor está querendo insunuar que eu implantei a drgoa no seu porta-malas? Eu?? Um policial honesto, íntegro, responsável por essa rodovia, um verdadeiro senhor do rodoanel? - Pergunta cabo Inácio com a mão na pistola localizada na cintura.
- Não, que isso! Eu estou querendo me explicar! - Tenta se redimir Marcos.
- Calma amor. Ficar aqui discutindo com eles não vai resolver. - Diz a noiva.
- Eu também acho. - Diz o guarda.
- Então? Como a gente pode resolver isso? - Pergunta Claudia.
- O anel. - diz o cabo Inácio.
- Que anel? - Pergunta Marcos.
- O que você deu de noivado pra sua mulher. Sabe... Eu também to querendo pedir a minha namorada em noivado...
- Você tá maluco! - Grita Marcos.
- Calma amor. - diz Claudia retirando o anel da mão. - Deixa eles irem. - E entrega aos guardas, que nem agradessem e vão se retirando.
- Eu não acredito que você fez isso! - Diz Marcos.
- Calma amor. Ainda temos a maconha. - Diz Claudia.
- E daí? Essa maconha não é nossa Claudia! A gente nem fuma.
- Ah amor... Um quilo muita coisa... A gente pode vender.... - Diz Claudia.
Marcos pega a maconha do chão, e vai embora. Em direção a Ubatuba.


por alberto szafran.

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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

no stress.

Mizída se matriculou no Yoga acreditando seria a solução de seus problemas de stress. Sempre submetida a horas exaustivas na firma, viu nessa aula a oportunidade para expantar o mau-humor e adotar a legendária frase: "no stress".
Yoga: a arte milenar capaz de solucionar os seus problemas com calma e ponderação.
Talvez Mizídia aprendesse nessas aulas a ganhar muito dinheiro fácil. Ela jurava que a falta de dinheiro era a causa de seus problemas e que todos que faziam yogaseram ricos, segundo ela você nunca verá um mendigo meditando, se claro, ele não estiver defecando (palavras dela, não minhas).
E Mizídia foi assistir a essa aula. Sentou-se no chão da praça Juscelino Kubitschek e aguardou sobre a sua kanga estendida. A aula estava marcada para começar ás 16 horas. Segundo o folheto: "A hora que os astros começam a se alinhar para o espetáculo do pôr-do-sol. Eram 16:07 e ninguém. Tudo bem. Gente rica atrasa. Mas a professora? Meio incomum. Poderia ser um dia atípico. Mizídia pensou em ser horário de verão, mas estávamos em meados de julho, inverno no Rio de Janeiro.
16:24. As pessoas passavam e seguravam o riso. Algumas olhavam com curiosidade e outras, mais apressadas, nem tanto. E o lugar? Pleno centro da cidade. Muito movimentado. Não tinha muita cara de aula de yoga, aliás, não tinha muita cara de gente rica.
Então algo surgu na cabeça de Mizídia que ela foi a sua bolsa procurar o panfleto que achava no balcão da firma: AULA DE YOGA - SÁBADO - 16:00 (hora que os astros...) - PRAÇA GETÚLIO VARGAS
- Puta que pariu! Errei o presidente! - Gritou Mizídia como se a culpa de Lula estar no poder fosse dela. Jogou a kanga dentro da bolsa e saiu correndo em busca de um táxi para Ipanema. Nem tinha começado a aula e Mizídia já estava puta. Chegou na praça eram 16:43. Estendeu a kanga sobre o gramado e sentou-se conforme todas as outras estavam sentadas.
De olhos fechados e concentrada, a professora, ao perceber a chegada alarmante de Mizídia soltou: "Está atrasada. 43 minutos para ser mais precisa." A vontade de Mizída já era socar a cara da professora, mas se segurou e simplesmente pediu desculpas. Olhou para a coleguinha que meditava ao lado e sussurrou: "Aposto que ela não é japonesa!" cochicha Mizídia a respeito da instrutora que lhe camava atenção pelo atraso.
- Não é mesmo. - Disse a coleguinha. - Ela é indiana. - Fechando os olhos novamente.
- Vamos "inspirar e puxar". Bem lentamente! Vamos respirar direito. - Instruiu a professora indiana. Foi nesse momento que Mizídia soltou uma rápida gargalhada de deboche. Todos olharam para ela.
- Perdão? - Disse a intrutora. - Disse algo engraçado? - Indagando Mizídia.
- Não professora. É que voê falou "vamos respirar direito!"
- Sim. E daí?
- E daí que se pra respirar direitoa gente precisa respirar e soltar tão profundamente, eu cho que a gente só respira direito ás 16 horas de sábado! - Completou Mizídia.
Todas continuaram a lhe encarar.
-Oi?! - Perguntou a professora.
- Ninguém respira assim sempre. Ou a pessoa respira assim ou vive, come, dorme, trabalha. E se assim é respirar direito então estamos todos morrendo. Inclusive a senhora.
A professora começou a respirar profundamente.
- Eu respiro assim sempre! - Gritou uma madamena primeira fila.
- Vai ver é porque você vive ás custas do seu marido e passa o dia inteiro respirando e bufando! - Disse Mizídia já nervosa.
- Vamos (respirando) manter (soltando) o nível (respirando) aqui (soltando). - Fazia a professora.
Mizídia se senta novamente sobre a sua kanga e retoma a posição do yoga.
- Quer saber? - Levanta Mizída imediatamente. - Eu quero mais é que vocês se explodam! - Mizídia começa a arrumar suas coisas.
- Nossa! Mas a senhora está muito extressada... - - Disse a professora. Foi aí que Mizídia voôu em cima do seu pescoço. As madames vão apartar a briga e acabam jogando Mizídia longe, que com classe se levanta e finaliza olhando no fundo dos olhos da instrutora indiana:
- E quer saber? Existem mais de trilhões de astros no universo e eles nunca estarão alinhados! Suas burras!
Mizídia pega a sua kanga do gramado, a sua bolsa e dá as costas para as madames de Ipanema.
- Já chega!... Vou fazer yoga no meu wii.! - Sussurra Mizídia, comteplando o pôr-do-sol, ao fundo da praça Getúlio Vargas.



por alberto szafran.

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domingo, 15 de agosto de 2010

noite feliz.

A grande maioria dos autores (para não dizer todos), gosta de escrever sobre o natal somente na época do natal. Tudo é descrito com muita alegria e sutileza: "o peru delicioso, a nóz crocante e o vinho divino". Porém a maior desventura pode vir a acontecer até em uma ceia de natal onde a família está reunida. Aliás, as maiores merdas acontecem quando a família está, de fato, reunida. E para evitar ser chamado de heréges, anticristo, filho do demo ou seja lá o que for, prefiro relatar essa fatídica desventura de uma noite feliz, agora. Em pleno mês de agosto.
Acontece que toda família estava reunida em volta da mesa, comemorando o natal. O pai, a mãe, o filho mais velho de vinte um, o do meio de dezessete e a mais nova de quatorze. Estavam também o avô e avó, pais da mãe. A família era tão evangélica que deixaram um lugar na ponta para o nosso senhor Jesus Cristo (vai ver ele quem iria pagar a conta!). Estava um clima legal. Não era a coisa mais animada do mundo, mas também não era a "Santa Ceia". O pai conversava com a avó alguma coisa sobre vinhos e havia um pequeno burburinho no ambiente.
"Me passa um pedaço de tender?" - Pede o avô gentilmente com o prato estendido sobre a tigela de arroz. A menor, viu nessa indgação a oportunidade:
"O Caio é gay!" - Imediatamente ela leva as duas mãos a boca e todos ficam em absoluto silêncio, exceto o avô continua com a mão estendida segurando o prato, sobre a tigela de arroz. Todos encaram o filho do meio, Caio, que encara a amais nova com uma certa feição indiscritível.
"Como é que é?" - Pergunta Caiohorrorizado.
"Desculpa Caio, saiu." - Tenta se desculpar a menor, morrendo de vergonha da situação que causara.
"Mãe..." - Caio se vira imadiatamente pra mãe que logo coloca a mão sobre o ombro do filho.
"Tudo bem meu filho, tudo bem. Eu já sabia."
"Mas..." - Quando Caio tentava completar é intorrompido pela explosão do pai:
"Você já sabia?! Você já sabia e não me disse nada?!"
"Esse tender está mesmo delicioso!" - Completa o avô.
"Pai..." - Tenta Caio.
"Você cale a boca!" - Grita o pai estarrecido"Vá direto pro seu quarto que eu vou ter uma conversinha com você!
"Você não vai machucá-lo!" - Grita a avó.
"Não se meta na educação que eu dou aos meus filhos!" - Responde o pai de pé e furioso. - "Tá esperando o que? Que eu te arraste pelos cabelos?"
"Mas pai, eu não..."
"CALA A BOCA MOLEQUE! PEDERASTA!
"Calma amor, deixa ele falar! - Suplica a mãe desesperada.
"Falara o que? As aventuras sexuais e avida indigesta que ele leva? Eu já devia suspeitar! Viagem pra lá, dormir em casa de amigo pra cá!"
"Desculpa Caio..." - Tentava a X9 menor quietinha.
"Bota mais dois pedaços de tender pra mim?" - Pediu o gentil vovô com o prato no mão.
"Pai..." - Tentava Caio novamente.
"Eu não quero ouvir você!" - Gritava o pai com as mãos nos ouvidos.
"Escute ele!" - Implorava a mãe aos prantos.
"Eu não quero!" Gritava o pai com as mãos nos ouvidos e se balançando desse vez.
"Bota mais dois pedaços de tender pra mim?" - Pedia o velho faminto.
"Pai..." - Tentava Caio pela última vez.
"Não!" - Esperneava o pai.
"Pai, EU NÃO SOU GAY!" - Finalmente o menor consiguira.
Silêncio absoluto.
"Eu sou."
Rodos se viravam para o mais velho.
"A deixa que eu pego!" - Proclama o impaciente vovô, levando o garfo até o prato do tender.
Volta a confusão.
"E querem saber do que mais? Não precisa me mandar pro quarto não! Eu vou embora! - Sai a bichinha puta da vida.
"Como assim vai embora?" - Levanta o pai - "Pra onde você vai?" - Sai atrás gritando que nem um degenerado.
"Calma amor! Pelo amor de Deus!" - Vai a mãe atrás tentando acalmar.
"Viu o que você fez? Satisfeita agora?!" Pergunta Caio á caçula, já se levantando para seguir o furdunço.
"Mas quem dá pinta é você! Foi você de quem eu falei. Não ele!" - Vai a caçula atrás tentando se redimir.
Quando enfim, silêncio total. Somente dois seres abitam o cômodo: o avô e avó. Trê contando com o Espirito Santo da cabiçeira.
O avô terminando de comer seus dois pedaços de tender, a velha, quase morrendo, leva a mão ao coração. Ele "raspa" o prato e segura o garfo com a força da direita:
"Ué?... Acabou o tender?"



por alberto szafran

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sábado, 14 de agosto de 2010

o homem discreto.

Ele era muito discreto. Procurava não fazer o mínimo barulho quando adentrava nas mais diferentes residencias da classe alta paulista. Fazia tudo sozinho. Em torno de meio dia, ia entrando pelos portões dos prédios mais luxuosos dos Jardins. O figurino, claro, específico para a ocasião. Vestia um terno preto risca de giz e uma gravata vinho, sempre a mesma gravata que lhe dava sorte, uma valise preta na mão esquerda e um óculos escuros que cobria metade do rosto. O porteiro ia ao interfone e era sempre: "o que deseja?" ou "como posso ajudar?". Ele SEMPRE respondia: obrigado pela atenção, mas marquei de me encontrar com um sócio aqui na porta. Ás vezes não levava nem cinco minutos. Todos os porteiros o convidavam para esperar do lado de dentro do prédio. Ele entrava. Agradecia mais uma vez e se sentava no sofá do hall, sempre muito chique. Era tempo de colocar a sua valise sobre o seu colo que misteriosamente, o seu celular, sempre de última geração, tocava. "Alô? Estou te esperando! Quer que eu suba? Mas nós marcamos aqui embaixo! Tudo bem! Só uma xícara!". E era assim que ele pegava o elevador principal e sem levantar nenhuma suspeita, circulava pelos corredores do prédio. Ele tocava a campanhia de todos os apartamentos. Geralmente um por andar, no máximo dois. E quando alguém atendia, ele simplesmente dizia "Desculpe, o honda civic em frente a fachada do prédio é seu? Eu gostaria de tirar o meu carro. Está bem atrás!" Quando ninguém atendia, ele entrava. Tirava uma penca de chaves do bolso, um grampo de cabelo e pronto. Nenhuma fechadura que resista. Fechava a porta. E todo objeto de valor que coubesse dentro da valise, ele ali a colocava. Chegara uma vez a acumular um milhão de reais somente em jóias preciosas que consiguira no Jardim América. Foi assim durante uns dez anos. O quanto ele acumulou era um valor surpreendivel. Todo dia ele saia para trabalhar. E como trabalhava sozinho, tudo ficava para ele. Não podia confiar em bancos, como explicar esse valor altíssimo que possuia? Até que resolveu se aposentar. Um último roubo. Um último prédio. A essa altura do campeonato ele tinha dinheiro para viver mais cinco vidas sem precisar trabalhar. Acordou, tomou um banho, tomou café e pos o terno preto com risca de giz como de costume. A gravata da sorte vinho e a valise preta na mão esquerda. Pegou um óculos lindo da Prada que havia comprado se não me engano duas semanas antes. E foi em direção ao Morumbi. O mesmo esquema de sempre e logo estava dentro do apartamento de um famoso apresentador de televisão. Sozinho. Embolso todas as jóias de sua esposa, dólares que guardava dentro de um cofre atrás de um quadro sobre a escrivaninha do escritório. Uns cem mil reais de brincadeira foram embolsados naquele dia. Satisfeito, Ele voltou pra casa. Foi recebido com uma citação ao menos curiosa de seu porteiro no Jardim Paulista: "Ué? Pensei que o senhor tivesse em casa. O moço de terno subiu pra falar com o senhor!" Sem pensar duas vezes, Ele subiu correndo as escadas, deixando a valise pra trás no hall da portaria. Não havia nem saber quem poderia ser. As cameras de segurança só seriam implantadas na segunda-feira. Chegou no seu andar e sua porta estava arrombada, todo o trabalho de dez anos, havia sido em vão. O misterioso homem de terno e gravata havia levado tudo. Um momento de emoção tomou conta d'Ele, mas foi rápido. Lembro que ao menos tinha uns cem mil que havia conseguido na brincadeira do dia. Desceu pra bsucar a valise na portaria. O porteiro o encarava com curiosidade: "Ué Aldemar? Cadê a minha valise?" Ele olhou pra mim com mais curiosidade ainda:"Que Valise, doutor?"



por alberto szafran.

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