roteiros (4)


MAFIOSOS ANIMAIS
De Alberto Szafran

baseado em "O Rinoceronte" de Eugéne Ionesco.

Doroth e Kelly estão sentadas uma do lado da outra tomando um chá. Doroth para de tomar o chá e olha para Kelly.

DOROTH – Não olha agora não... Mas tem um rinoceronte vindo na nossa direção.

KELLY – Eu já vi... Será que nós... vamos embora?

DOROTH – Não! Continue sentada! Já pensou pagar essa vergonha?!

KELLY – Ta bom...

Tempo.

KELLY – Como é o rinoceronte?

DOROTH – O que?

KELLY – Como é o rinoceronte?

Doroth olha bem devagar e depois volta ligeiramente.

DOROTH – Ele é cinza, e tem um chifre na cabeça...

KELLY – Eu conheço ele!

DOROTH – O que?

KELLY – É o Aroldo...

DOROTH – Quem?!

KELLY – Aroldo, meu vizinho!

DOROTH – O rinoceronte é o seu vizinho?

KELLY – E o pior... To devendo dinheiro para ele!

DOROTH – Você está devendo dinheiro para um rinoceronte?

KELLY – Você acha que ele veio aqui para cobrar de mim???

DOROTH – Depende... Você esta devendo muito dinheiro para ele?
KELLY – Duzentos francos!

DOROTH – Caramba! Rinocerontes odeiam quem fica devendo duzentos francos á eles!

KELLY – Como você sabe?

DOROTH – Porque eu já fiquei devendo para um!

KELLY – Você já ficou devendo dinheiro para um rinoceronte?

DOROTH – Para um hipopótamo...

KELLY – O que o hipopótamo fez?

DOROTH – Ele veio me cobrar o dinheiro!

KELLY – Sim mais na hora de ele te cobrar o dinheiro, o que ele fez?

DOROTH – Ele me levantou com o chifre...

Kelly interrompe.

KELLY – Hipopótamo tem chifre?

DOROTH – Não... Mas esse tinha! E era grande!

KELLY – Maior do que desse rinoceronte?

Doroth volta á olhar o rinoceronte.

DOROTH – Oh!

KELLY – Mas o que ele fez?

DOROTH – Ele quem?

KELLY – O hipopótamo!

DOROTH – Ele me levantou com o chifre!

KELLY – O hipopótamo?

DOROTH – É... E a pior parte ainda está por vir... Um cachorro...

KELLY – Um cachorro?
DOROTH – Um cachorro que o acompanhava estendeu a pata para mim. Foi quando descobri que ele era cego!

KELLY – É impressionante, esses cachorros de hoje em dia guiam até hipopótamos!

DOROTH – Mas quem disse que o cego era o hipopótamo?

KELLY – Não era?

DOROTH – O cego era o cachorro, e quem estava o guiando era o hipopótamo!

KELLY – Mas isso é um absurdo! Porque ele não usava uma bengala?

DOROTH – Não sei... Só sei que atrás do cachorro havia uma onça!

KELLY – Uma onça?

DOROTH – É... Uma onça de terno! Devia ser o seu segurança!

KELLY – Estava armada?

DOROTH – Quem?

KELLY – A onça!

DOROTH – Não sei, quer dizer, é, quer dizer, não vi!

KELLY – Afinal você viu, ou você não viu?

DOROTH – Não vi... Mas eu sei que ela estava!

KELLY – Como você sabe?

DOROTH – O que?

KELLY – Que a onça estava armada?

DOROTH – Porque toda hora ela mexia no bolso!

KELLY – Poderia ser para pagar a conta!

DOROTH – Você acha que segurança vai pagar a conta?

KELLY – Mas continua...

DOROTH – A situação ficou pior!

KELLY – O que aconteceu?

DOROTH – Chegou um lobo, acompanhado de uma vaca, e atrás um tigre, esse de bengala e vestindo um terno...

KELLY – Então eram duas gangues, gangues animais!

DOROTH – Exatamente! Dois grupos de mafiosos, muito bem vestidos, e muito bem armados!

KELLY – E o que aconteceu depois?

DOROTH – As duas gangues entram no toalete masculino...

KELLY – E depois?

DOROTH – E depois eu nunca mais os vi! Eu só me lembro de um cavalo, vestindo uma roupa policial, que galopava na minha direção para acalmar a situação...

KELLY – E o que mais?

DOROTH – Acordei...

KELLY – Acordou?

DOROTH – Acordei em uma cama de hospital onde vi que o médico responsável era um flamingo...

KELLY – Mas você acha que o Flamingo também faz parte da conspiração?

DOROTH – Dificilmente! Eu mal tinha acordado e ele já tinha me dado alta...

Kelly olha para traz.

KELLY – Ué, onde está o rinoceronte?

DOROTH – O rinoceronte sumiu?

Kelly volta á olhar para traz.

KELLY – Um hipopótamo!

DOROTH – Pois é um hipopótamo me levantou com o chifre...

KELLY – Não tem um hipopótamo atrás da gente!

DOROTH – Há meu deus! Então eu acho melhor agente ir embora antes que ele venha cobrar duzentos francos á gente!

KELLY – Um hipopótamo já veio te cobrar duzentos francos?

DOROTH – Eu ainda não te contei essa história?

KELLY – Não...

DOROTH – Então eu vou contar...

Doroth começa á contar toda a história novamente enquanto a luz vai apagando e uma música de fundo termina a cena.

FIM.


por alberto szafran.


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Os músicos de Bremen
Alberto Szafran.

O primeiro espetáculo que escrevi na minha vida, foi há sete anos atrás. Foi baseado em uma história que li chamada "Os Músicos de Bremen" (história também, que deu origem do musical "Os Saltimbancos" de Chico Buarque). Lembro bem que era uma peça para ser apresentada na escola, para a minha turma de teatro. Encontrei, meio que nos meus documentos e achei, que pra mim pelo menos, é um pequeno tesouro! Como fiz com onze anos de idade, sejam gentis!

 O CENÁRIO DE INÍCIO É UM PAINEL COM UMA FLORESTA PINTADA. DURANTE AS CENAS SÃO TRAZIDOS DA COXIA ACESSÓRIOS QUE COMPLETAM O CENÁRIO DE ONDE SE PASSA A CENA.

Cena 1-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Cenário é somente o painel da floresta. O Burro está sentado em cima, com a cabeça baixa, em cima de caixa.

Burro: Ninguém entende o bicho! Eu não sei porque! Posso ser burro, mas comigo vocês vão aprender! O bicho entende, entende muito bem! Os sentimentos do humano e demais ninguém. Essa história que irei lhes contar, aconteceu de verdade! Fala sobre uns bichos que foram cantar na cidade! Essa cidade era Bremen, e os bichos eram músicos!
 Com vocês; Os músicos de Bremen!

Burro tira da caixa palha e as joga no chão. Logo ele senta em cima dela e põe á comer.

Cena 2-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Terras do velho fazendeiro Carúçu. Vemos palha no chão e o burro velho em cima, comendo a palha. Carúçu chega.

Carúçu: Seu burro velho! Só sabe comer da minha palha, beber da minha água, mas levar as minhas mercadorias para a cidade você não sabe! Está á dias com essa aparência de velho, sem levar meus milhos pro moinho!

Burro: Talvez seja porque eu já esteja velho, não é?!

Carúçu: E ainda fica ai resmungando igual á uma vaca pastando! A, me desculpa, pelo menos ela pasta!!! Eu só vou te dar mais uma chance! Amanhã, lá pelas oito, eu venho aqui te trazer dois pacotes de milho para você levar para moinho da cidade, caso não consiga levar, eu te vendo para um outro fazendeiro hein!

Carúçu sai.

Burro: Eu não consigo acreditar, só porque já estou velho, e milho não consigo levar, o velho Carúçu vai me vender! Eu tive uma idéia, amanhã quando ele vier me buscar, para floresta vou galopar! Já como estou bastante velho ninguém no meio do caminho irá em cima de mim montar! Mas eu não sei qual é o caminho para floresta! Então o que posso fazer? Já sei! Dormirei agora, e amanhã irei resolver!

O burro deita na palha e dorme. O velho Carúçu chega.

Carúçu: O burro velho são oito da manhã! Eu estou com os sacos aqui na minha mão! Agora é você quem faz o trabalho!

Burro: Eu não vou fazer trabalho nenhum!

Carúçu: Para de resmungar que eu não entendo nada que você fala seu burro velho! Agora pega logo esses sacos!

O burro começa a correr pelo palco.

Carúçu: Aonde você vai seu burro safado?

Burro: Eu vou para um lugar onde serei livre e solto, onde poderei cantar e dançar sem que ninguém me perturbe, eu vou para floresta grande!

Burro sai galopando.

Carúçu: Não adianta fugir, você está velho, eu vou te procurar e quando eu te encontrar, ai sim você vai querer fugir!

Carúçu sai e leva todo material de cena junto á ele. Assim entra Ernesto que coloca uma poltrona velha no meio do palco, um tapete á sua frente e um abajur do lado da poltrona.

Cena 2-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Casa do caçador de raposas Ernesto. Ele está voltando para casa junto ao cachorro.

Ernest: De novo? Porque você é assim hein Dog? Todos os seus irmãos caçavam raposas como feras, e você parece que sente pena delas! Eu gosto de você só que eu caço raposas! Eu vivo disso! Aí você vê, tive que meter uma bala na raposa pra que ela morresse! Além de ser terrível matar um animal desse jeito, imagina, a mulher que vai fazer os casacos de raposa se deparar com um furo de rifle bem na pele da raposa! Ela vai deixar de compra pra mim!

Cachorro: Mas eu consigo caçar a raposa, eu só não mato porque dela irão fazer casaco!

Ernest: A minha única opção é arranjar um novo cachorro, dói fazer isso, mas é que eu não tenho como sustentar dois cães. Desculpe Dog, mas terei que lhe botar na rua.

Cachorro: Não! Não na rua não! Por favor, você não pode me expulsar de casa! Esse mundo é tão cruel, tão cheio de maldades! Eu não vivo sem um ossinho, o único osso que vou encontrar é de defunto! Sem uma águinha, a única água que vou ter é da chuva! Só terei um futuro desgraçado!

Enquanto o cachorro vai falando, Ernesto vai o empurrando até chegar na porta de casa, Ernesto sai.



Cena 3-----------------------------------------------------------------------------------------------------
O burro anda pela floresta e encontra o cachorro deitado no chão totalmente infeliz.

Burro: Parece que não sou o único infeliz nessa terra... O que foi cachorro? Por que está assim tão triste?

Cachorro: O meu dono me jogou para fora de casa só porque eu tenho pena de caçar raposas! Mas você também não está muito contente! O que houve com você?

Burro: A minha história é semelhante á sua!Só porque não consigo levar mais algumas mercadorias para o moinho da cidade o meu dono quer me vender! Agora eu não sei mais o que fazer!

Cachorro: Nossa, você pode estar fraco, mas tem uma voz e tanto!

Burro: Você também é bastante animado para um cachorro... Todos os que tinham na fazenda eram... Eram tão preguiçosos!

Cachorro: É porque você deve ter conhecido ou um inglês, ou um vira-lata... Eu não, eu sou um pastor alemão!

Burro: Já ouvir falar da sua raça! Protege ovelhas?

Cachorro: Mais ou menos...

Burro: Como assim? Mais ou menos?

Cachorro: Caço raposas...

Burro: Essas terríveis...

Cachorro: E como! Teve uma vez que corri tanto atrás de uma, que quando á peguei eu fiquei parado uns cinco minutos em cima dela... Descansando...

Burro: Então... O que faremos de nossas vidas?

Cachorro: Porque não vamos para a cidade?

Burro: Cidade? Nem pensar! Eu ouvi dizer que na cidade á um monte de casas onde moram um monte de animais... Eles ficam presos nessas casas!

Cachorro: Eu também ouvi dizer nessas casas... São casas de repouso... Para animais já idosos...

Burro: Mas eu sou velho!

Cachorro: Mas eles ficam lá porque pedem... Eles gostam... Sabe, são alguns animais que foram criados na cidade, e velhos vão para essas casas...
Burro: Entendi! Nossa hoje em dia o governo pensa em tudo!

Cachorro: Então... Vamos para a cidade?

Burro: Mas vamos fazer o que na cidade? Para casa de repouso eu não quero ir... Ainda!

Cachorro: Eu também não! Olha, eu ouvi dizer de um pássaro que foi tentar a sorte como músico na cidade, e se deu muito bem! Todos iam no show dele de tão bom que ele era! Todos iam vê-lo... Tanto que o apelidaram de “Bem-te-vi”!

Burro: Bem-te-vi?

Cachorro: É! Quando ele passava todos gritavam: Bem-te-vi!

Burro: Então está certo! Vamos tentar a sorte como músicos na cidade!

Cachorro: Vamos fazer uma dupla?

Burro: Uma dupla musical!

Cachorro: Vamos cantar na cidade!  

Cena 4-----------------------------------------------------------------------------------------------------
Casa de Francisca. Francisca esta com uma vassoura na mão caçando ratos pela casa, enquanto sua gata esta deitada na poltrona tomando um pires de leite.

Francisca: Ara bichana desgraçada! Enquanto eu caço os ratos você fica deitada em cima da minha poltrona tomando leite? Esse é o seu trabalho sua gata preguiçosa! Vive comendo minha comida, e dormindo na minha cama, e eu deixo enquanto durmo no sofá, mas isso já é demais! Eu vou é te afogar!

Música. A gata corre em círculos e Francisca corre atrás dela, a gata desfalca Francisca e sai da casa ás pressas.

Cena 5-----------------------------------------------------------------------------------------------------
O burro e o cachorro estão andando pela floresta e encontram a gata.

Burro: Olha! Outro bicho triste... Vou falar com ela!

Burro vai até a gata.

Burro: O que aconteceu? Porque está tão triste?

Gata: Como poderia estar alegre? Minha dona quer me matar só porque não caço mais ratos como na minha juventude!

Cachorro: Então você pode vir conosco! Vamos á cidade, fazer uma dupla animal!

Burro: Se vier conosco poderemos ser o trio animal!

Gata: Ou então o trio musical!

Cachorro: Também é uma boa opção!

Burro: Então, você vem conosco?

Gata: Desde que esse cachorro pare de olhar com uma cara de faminto para mim!

Cachorro: Desculpe!

Burro: Você sabe fazer algo de especial?

Gata: Eu... Eu sei pular... Sei... Sei... Sei fazer várias coisas!

Cachorro: Então ta bom! Ela sabe pular e fazer várias coisas!

Cena 6 ----------------------------------------------------------------------------------------------------
Mesa posta com vários pratos e talheres de luxo. Matilde anda de um lado para o outro.

Matilde: Ai meu Deus! Daqui a pouco chega o barão! O que eu faço para o jantar? Idéia tenha uma idéia, Matilde! Já sei! Vou fazer um pernil de frango!


Empregada: Não tem frango não, senhora...


Matilde: Mas tem um galo! Ele não vai perceber se fizer um pernil... de galo! É isso que eu vou fazer, O Godofredo já está bem gordinho, eu vou assá-lo e servi-lo no jantar! Godofredo! Godofredo! 

Matilde sai á procura do galo.

Cena 7 ----------------------------------------------------------------------------------------------------
Matilde entra no galinheiro e avista Godofredo. Vai até ele. Tenta levantá-lo, mas não consegue.

Matilde: Mas você está gordo mesmo, hein?!

Galo: Bondade sua! Mas me diga... Porque você está tentando me levantar?

Matilde: Vamos seu galo gordo! Eu to com pressa!

Galo: Qual é o problema?

Matilde: Se você não levantar eu vou ter que te assar aqui mesmo!

Galo: Assar??

Matilde: Acho que eu vou ter que pedir ajuda pra alguém!

Galo: Acho que eu vou ter que pedir ajuda pra alguém!

Matilde levanta a espingarda, mas o galo pula em cima dela. Som de tiro, barulho etc.
O galo é bastante gordo ele tenta correr pelo palco, mas é lento, enquanto ele corre ouve-se som de tiro.

Cena 8 ----------------------------------------------------------------------------------------------------
O galo está andando cansando pela floresta.

Galo: Que mulher maluca! Mas um pouco e viro almoço!

O cachorro, o burro e a gata chegam pelo outro lado do palco.

Cachorro: Alguém falou em almoço?

Galo (escondendo-se atrás do burro): Pelo que eu saiba cachorro não come galo!

Gata (escondendo-se atrás do burro também): Nem gata!

Cachorro: Na hora do aperto, come-se de tudo! Eee... Como gato sim! Mas agora que você está no grupo, vou fazer uma dieta á base de... A base de...

Galo: A base de que?

Cachorro: Não sei... A minha vida toda eu comia ração... Eu nem procurava saber do que era feito... A única coisa que eu sei é que cachorro como gato!

Gata: Então você está muito desinformado! Porque cachorro? Cachorro como qualquer coisa! Vai ver cachorro só come gato porque resolveram dar... (com nojo) espetinho de gato pra ele!

Cachorro: Não é verdade! Eu não como qualquer coisa!

Gata: Espaguete?

Cachorro: Só se for á alho e óleo!

Gata: Rosbife?

Cachorro: Hum... Delícia! Bota sal que fica esplendido!

Gata (bota o galo na frente): Galo?

Cachorro: No espeto!!!

Galo: Hei !!!

Cachorro: Desculpe!

Gata: Como você vê cachorros comem qualquer coisa!

Cachorro: Deve ser por isso que adoramos gatos!

Galo e Burro: IIhh!!

Gata: Como você ousa insultar a classe dos gatos dessa maneira?

Cachorro: Você disse, eu só complementei...

A gata dá um arranhão no cachorro. Som off de arranhão.

Cachorro: Você me arranhou?!

Cachorro prepara-se para mordê-la.

Burro: Briga jamais!

O burro da um coice na gata para afastá-la e ponha-se na frente dela. Leva a mordida por ela. Com o grande barulho e a grande confusão o galo cacareja (cocoricó).

Depois dessa grande confusão todos caem no palco exaustos.

O galo se levanta com um pouco de dificuldade.

Galo: Nossa que confusão, hein?!

O burro também se levanta.

Burro: Agora ficamos cansados! Desperdiçamos todo nosso talento nessa confusão!

Cachorro: Foi a gata quem começou!

Gata: Eu? Então agora a culpa é minha? Você insultou a minha espécie!

Burro: Já chega! Eu não quero saber quem começou ou que terminou! Eu só quero que vocês se acalmem e passem a se ajudar e a se respeitar como um grupo musical!

Galo: Você disse grupo musical?

A gata pronta para responder ao burro nem ouviu a pergunta do galo e continuou falando o ignorando.

Gata: Como nós podemos nos ajudar? Ele é o meu predador! Eu sou a presa!

Cachorro: Muito bem observado!

O burro e gata o olham estranho.

Burro: Isso não é desculpa!

Galo: Grupo musical?

Cachorro: Como isso não é desculpa? Era para ela já ter virado almoço! Se fosse um Dobermann...

Burro: Olha, onde eu vivia havia um porquinho muito esperto e sabido, um dia ele me contou uma história, eu irei lhes contar!
Lá no sul da Alemanha, em uma cidade bem pequenina chamada Kempten havia um leão!
Forte, robusto e grandalhão!
Todos o olhavam e o admiravam, todos os bichos o respeitavam!
Mas aí teve um dia, que o leão ficou com fome, era capaz de comer qualquer animal!
Na sua frente passou um ratinho e ele o segurou com uma cara de mau!
Ele disse ao pobre rato:
- Estou com muita fome! Almoçar você terei de fazer!
O pobre rato sem ter pra onde ir, pos se á dizer:
- Por favor, não me coma, tenho mulher e filhos pra criar! Deixe-me ir, que talvez um dia possa-lhe recompensar!
Achando muita graça do rato o leão caiu de rir! Mas sentindo pena do pobre, o forte, grandalhão deixou o pequeno ir.
Não demorou muito, e os caçadores acabaram com a festa! Procuravam pelo leão em toda floresta! Queriam fazer um casaco da pele do bicho! Depois o resto, iria tudo pro lixo!
Fizeram uma armadilha e conseguiram pegá-lo com uma rede bem forte, o rato que o leão poupou de matar acaba de passar por ali! Olha que sorte!
O rato percebendo no que havia acontecido pos se a roer a corda, conseguindo um resultado inesperado!
O rato conseguiu salvar o leão! Os dois se ajudaram, de irmão, pra irmão!

O cachorro, a gata e o galo se emocionam com a história contada pelo burro. Logo chorando, os três se abraçam.

Burro: Viu? Todos nós nos ajudamos se quisemos! Independente do lugar que ocupamos na cadeia alimentar!

Cachorro: O que é cadeia alimentar?

Burro: São os lugares que os animais ocupam na hora de comer...

Cachorro: Como assim?

Burro: Por exemplo: O leão come a zebra, que come o capim!

Cachorro: Agora eu entendi!

Galo: Desculpe interromper a aula, sábio burro, mas é que você disse em... Grupo musical?

Burro: Nós vamos cantar para os homens!

Cachorro: Vamos cantar musica latina (começa a cantar latindo na melodia de música mexicana)!

Galo (estranhando)É sério?

Burro e gata: Não!

Galo: Então que tipo de música vão cantar?

Burro: Todos os tipos de música! De axé á bossa nova!

Gata: De punk á disco music!

Cachorro: De latida á latina!

Galo: Posso me juntar á vocês?

Os três: Mas é claro que pode!

Gata: E você toca algum instrumento? Ou canta algum tipo de música especifica?

Galo: Eu sei cantar músicas religiosas como niguém!

Burro: É verdade?

Galo: É sim! Modéstia parte, eu canto muito bem a oração da manhã!

Burro: Então está feito! Você vem conosco!

Galo: Para onde?

Gata: Para a cidade grande!

Galo: Que maravilha!

Cachorro: Desculpa, mas é necessário irmos agora pra cidade grande?

Burro: Por que? Já desistiu, cachorro?

Cachorro: Claro que não! Serei o músico mais conhecido de Bremen! Mas é que estou com fome e cansado!

Galo: Eu também estou com um pouco de sede! A correria me deixou sedento!

Burro: Acho que devemos parar e descansar...

Gata: Está certo! Vamos descansar!

Galo: Tem uma árvore ali em frente... Vocês ficam deitados em baixo dela, e eu fico no alto, caso eu ache alguma coisa interessante eu aviso á vocês!

Burro: Então está certo!

Logo o burro e o cachorro ficam deitados em baixo da árvore, a gata fica trepada em um galho da árvore, já o galo fica no alto.

Eles descansam um pouco. O galo começa á voar em cima deles.

Galo: Acordem! Acordem! Avistei um casebre á poucos metros daqui!

Burro: Deve ter palha!

Gata: Lareira!

Galo: Água!

Cachorro: Comida!

Cena 9 ----------------------------------------------------------------------------------------------------
Casebre dos ladrões. Os quatro vão em direção ao casebre. Chegando lá eles vêem que tem quatro ladrões que comem e bebem dentro da casa. Sem querer fazer barulho eles espiam o que acontece do lado de fora. O burro fica de quatro no chão. O cachorro sobe em cima do burro, a gata fica em cima do cachorro e o galo fica no alto em cima da gata.

Ladrão 1 (contando o dinheiro): Desse jeito seremos os ladrões mais perigosos da Alemanha!

Ladrão 2: Os mais ricos!

Ladrão 3: Os mais temidos!

Ladrão 4: E os mais bonitos!

Ladrão 2: Bom, me desculpe essa observação fora de hora, mas é que eu estava pensando... Vocês não acham esse casebre um pouco assustador?

Ladrão 4: Assustador?

Ladrão 2: É... Eu acabo de ouvir um barulho lá fora e me dei conta de ter visto alguma coisa!

Ladrão 1: Acostume-se com isso! Eu prefiro viver em casebres assustadores, mas longe da polícia, do que viver trancado na cadeia!

Ladrão 3: Eu também!

Ladrão 2: Tudo bem então... Mas depois... Não digam que eu não avisei!


Cena 10 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Os quatro bichos do lado de fora da casa ficam surpresos com o que está acontecendo.

Burro: São ladrões!

Cachorro: Vamos lá dar um surra neles!

Gata: Ficou maluco? Se aparecermos lá do nada que apanhamos somos nós!

Galo: Como faremos pra expulsar esses foras da lei dessa casa?

Burro: Eu tive uma idéia! Porque não usamos a nossa música?

Cachorro: Como assim?

Gata: A nossa música, de tão boa que é vai deixá-los mais à vontade em casa!

Burro: Mas se são mesmo ladrões vão querer ganhar algum dinheiro em cima da gente! Eles vão chamar mais homens, e enquanto isso nós ficamos aqui nesse casebre descansando, quando chegarem de volta com outras pessoas, nós fazemos um show e pronto! Eles irão nos levar pra cidade!

Cachorro: Como eu não pensei nisso antes?

Gata: Você não pensa nunca!

Cachorro: Claro que penso! To pensando agora!

Burro: O que eu falei pra vocês? Tentei se dar bem! Assim não poderemos trabalhar juntos!

Gata: Desculpa... Mas foi ele quem começou!

Cachorro: Hei! Foi você!

Burro: Eu já disse pra vocês ficarem quietos! Então gente, o plano é o seguinte:

O burro começa a falar com o cachorro a galinha e a gata.

Cena 11 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Dentro do casebre os ladrões continuam contando o dinheiro.

Cena 12 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Fora do casebre os quatro conversam sobre o plano.

Burro: Então galo, você já sabe o que fazer! Apague todas as luzes e traga só o lampião. Assim botaremos o lampião no chão e foco estará só na gente!

O galo concorda com a cabeça e vai.

Burro: Cachorro pegue um lençol bem grosso para fazer a cortina, assim nós á abriremos e começaremos á cantar!

O cachorro vai pegar o lençol.

Burro: Gata você vem comigo!

Cena 13 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Dentro da casa. Os ladrões continuam contando dinheiro, até quando numa parte apagada da casa começa uma movimentação com lençol. O ladrão 2 percebe essa movimentação.

Ladrão 2: Ai meu Deus! Acho que vi alguma coisa!

Ladrão 1: De novo com essa história?

Ladrão 4: Isso já está ficando chato.

Mais uma vez acontece essa movimentação, porém dessa vez o ladrão 2 e o ladrão 3 percebem.

Ladrão 2: Dessa vez vocês viram não é?

Ladrão 1: O quê?

Ladrão 3: Eu também vi! É verdade!

Ladrão 4: O que vocês viram?

Ladrão 2 e 3: Um fantasma!

Ladrão 1: Onde vocês viram?

Ladrão 3: Bem ali (aponta para o canto da casa)!

Nesse momento o lençol esta cobrindo uma cadeira. Nada se meche.

Ladrão 4: É só um lençol cobrindo uma cadeira!

Todos voltam á contar dinheiro.

Cena 14 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Dentro da casa. No canto escuro, em silêncio, os animais tentam se preparar o “show”.
O cachorro tenta botar o lençol no teto, o galo esta trazendo o lampião e o burro e a gata estão limpando o chão.

Burro: Tem que ser em silêncio! Para não estragar a surpresa! Cachorro, como vai o lençol ai em cima?

Cachorro: O lençol é muito pesado... Não consigo levantar direito!

Burro: Quer ajuda?

Cachorro: Acho que vou aceitar uma “mãozinha”!

Burro: Ótimo! Gata vá ajudá-lo!

Gata: Eu?

Burro: Sim você! Vá logo! Sem reclamar!

A gata sobe para ajudar o cachorro, eles conseguem botar o lençol só que fica um pouco torto.

Burro: Ficou ótimo! Agora cadê o galo com o lampião?

Galo aparece com o lampião na boca.

Galo: Estou aqui! E o lampião está aqui também!

Burro: Ótimo! Agora, Galo, segure o lampião para fazer luz, e vamos ficar bem juntinhos para que eles possam enxergar á todos!
Todos se juntam e fazem o que o burro mandou.

Burro: Quando eu falar já começaremos á cantar! Um, dois, três e Já!

No já, o lençol cai em cima deles, fazendo como se fossem fantasmas, a luz do lampião continua acesa dentro do lençol, e eles começam á fazer uma música que é um desastre. Os ladrões olham e começam á ficar apavorados.

Ladrão 2: Eu falei que era um...

Os quatro ladrões: FANTASMA!!! 

Cena 15 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Os quatro ladrões saem correndo do casebre. Nisso, os animais conseguem sair do lençol.

Burro: Conseguimos! Agora eles vão chamar os outros homens!

Cachorro: Isso é ótimo! Alguém ouviu o que eles falaram antes de chamar os homens?

Galo: Acho que eles falaram... Fantástico!

Cachorro: Foi o que eu pensei!

Gata: Fantástico! Olha só: é fantástico!

Burro: Muito boa essa letra! Bom, já trabalhamos demais por hoje! Vamos aproveitar, comer e descansar! Eu vou para o quintal, beber uma água e me deitar na palha!

Gata: Vou pegar leite na cozinha... Vou dormir por lá mesmo!

Galo: Vou ficar no telhado... Descansando!

Cachorro: E eu vou me deitar perto da porta dos fundos... Depois de comer!

As luzes se apagam.

Cena 16 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Estão todos dormindo do lado de dentro da casa. No lado de fora os ladrões conversam.

Ladrão 1: Não sei como fomos tão idiotas á ponto de deixar todo aquele dinheiro dentro da casa! Eu não vou perder esse dinheiro!

Ladrão 2: Mas tem um fantasma dentro da casa!


Ladrão 4: Ele já deve ter ido embora... Eu nem vejo mais a luz!

Ladrão 3: Mas em todo caso, acho que seria bom três de nós ficarmos aqui para guardar e proteger quem for pegar o dinheiro!

Ladrão 1: Muito bem pensado! E então... Quem vai pegar o dinheiro?

Todos olham para o ladrão 2.

Ladrão 2: Eu?

Ladrão 4: Se você for pegar o dinheiro, você pode ficar com um quarto do dinheiro!

Ladrão 2: Então eu vou!

Ladrão 3: Pega uma vela na cozinha para iluminar a casa!

Cena 17 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
O ladrão 2 entra na casa e vai pra cozinha pegar a vela. Chegando lá ele pega a vela, e vai acendê-la ns olhos da gata, que como estavam brilhando, ele achou que fosse fogo.
A gata toma um susto, arranha e cospe no ladrão. O ladrão vai correndo para a porta
dos fundos, mas sem querer pisa no rabo do cão, que lhe morde a perna. Pulando com um pé só ele vai pro quintal. O burro acorda com o barulho e dá um coice no ladrão. O galo acorda com o barulho e canta bem alto: “Cocorocó”!!!

O ladrão 2 vai correndo para fora da casa onde encontra os outros.

Ladrão 1: Ué?! Onde está o dinheiro?!

Ladrão 2 (ofegante): Lá dentro há uma horrível bruxa que me arranhou com suas garras e cuspiu-me no rosto! Perto da porta, há um homem que me passou um canivete na perna! No quintal, há um monstro escuro, que me bateu com uma tranca de pau. Além disso tudo, no telhado está sentado um juiz, que gritou bem alto: “Traga aqui o patife”! Acho que devemos esquecer o dinheiro!

Os ladrões concordam e saem correndo da floresta.

Cena 18 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Os bichos acordam e se encontram na sala.

Burro: Eu tive um sonho tão esquisito!

Gata: Eu também tive um sonho esquisito!

Cachorro: Eu sonhei com comida!

Galo: Eu tive um sonho esquisito também!
Burro: Agora que já estamos descansados, vamos á cantar ba cidade!

Cena 19 ---------------------------------------------------------------------------------------------------
Agora o cenário é um painel pintado com diversas casas como se fosse Bremen.
Os quatro juntos para a frente do palco.

Burro: Ai está! Uma história bonita e real! Porque igual ao bicho não tem ser mais real!

Cachorro: Fomos cantar na cidade! Ganhar a vida como músicos, e tentar a felicidade!

Gata: Porque todo bicho é especial, um companheiro ideal!

Galo: Pode ser galo, cachorro, burro ou gato, pode ser caro, ou pode ser barato...

Burro: Mas essa história vale á pena ver!

Cachorro: Ver pra crer!

Gata: Vale a pena acreditar!

Galo: Acreditar e cantar com ...

OS QUATRO: OS MÚSICOS DE BREMEN!

FIM. 


por alberto szafran


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respeito é bom e o delegado gosta.

Revirando alguns documentos aqui em casa, encontrei algumas relíquias perdidas, pra mim. Sempre gostei muito de escrever e dentro os textos que escrevi, a maioria eram roteiros de peças, filmes, séries etc. Encontrei aqui, uma peça que escrevi para um projeto da minha antiga escola do ano de 2007, ao qual escrevi três peças teatrais para serem apresentadas á outras escolas. Então, publico aqui a primeira peça da trilogia do ano de 2007: "Respeito é bom e o delegado gosta!"

obs: Levem apenas em consideração que escrevi esse texto quando tinha quatorze anos, e que provavelmente, fui melhorando com o tempo! (risos)


CENA 1.
A PADARIA ESTÁ PEGANDO FOGO. A CIDADE INTEIRA FICA EM VOLTA DO PADEIRO QUE ESTÁ EUFÓRICO. TODOS NÃO SABEM O QUE FAZER. O PADEIRO GRITA E RECLAMA. NINGUÉM ESTÁ LHE SUPORTANDO.

PADEIRO: Ox! Ninguém vai me ajudar não?  Acudam! É a padaria que está em chama!

CHARRETEIRO: E eu com isso? Padaria não é minha!

PADEIRO: Mas é do meu pão que você da de comer pros seus filhos!

CHARRETEIRO: É nada padeiro! Que o senhor morre, mas não vende fiado!

PADEIRO: Então como você quer que eu te venda fiado se você não vai ter dinheiro pra me pegar?

CHARRETEIRO: Então por isso mesmo que eu vou deixar pegar fogo! Não tenho nada com isso!

DÉZIA: Deixe de ser um menino mal criado charreteiro e acuda a padaria!

CHARRETEIRO: Eu não entro ai dentro nem com a molesta do cachorro doido!

PADEIRO: A minha padaria está pegando fogo! Quero uma autoridade aqui imediatamente!

CABO: Falou em autoridade, estou aqui!

DÉZIA: Mas isso ai não é autoridade nem com a molesta do cachorro doido!

CABO: Olha que eu posso te levar presa por desacato á autoridade!

DÉZIA: Você não prende nem passarinho em gaiola velha! Vai catar na feira homem!

CABO: Eu vim aqui pra ajudar! Se vocês não querem a minha ajuda, estou indo pra delegacia!

PADEIRO: Pelo amor de Deus, volte seu Cabo! Essa velha da Dona Dézia não sabe o que diz!

DÉZIA: Velha é a sua padaria! Que se estivesse nova não taria pegando fogo!

PADEIRO: Olha o respeito! Meu pai abriu essa padaria quando ele ainda era novo, que Deus o tenha!

DÉZIA: Não estou dizendo? Devia alimentar dinossauro com a padaria do jeito que aquele cabra era velho!

CHEGA A DOUTORA JUNTO COM A D. NELI.

DOUTORA: Cheguei! Tem alguém machucado?

PADEIRO (CHORANDO): Tem sim! A minha padaria!

DOUTORA: Oxente! Isso posso ajudar não! Nunca cuidei de padaria! Recebi um telefonema lá da prefeitura dizendo que era pra eu vir pra cá cuidar dos ferimentos de alguém que tinha se queimado com o fogo!

D. NELI: Falando em prefeitura, onde ta aquele salafrário do prefeito? Pra ajudar nessa barbaridade!

PADEIRO: Boa pergunta!

DÉZIA: Aquele sim! Era pra ser autoridade nessa cidade (da um tapinha na cabeça do Cabo)! Nunca mais voto em prefeito algum! Vo me mudar dessa cidade!

TODOS: Graças á Deus!

PADEIRO: Eu só quero salvar minha padaria! Eu vou viver do que?

CHARRETEIRO: Da mesma coisa que a gente! Leite de vaca e... E...

PADEIRO: E?
CHARRETEIRO: E o que tiver pra comer!

FIM DE CENA.

CENA 2.
O PALCO FICA ESCURO.  A LUZ VAI CLAREANDO ELE LENTAMENTE COM O SOM DE UMA MÚSICA CALMA. LOGO SE ESCUTA O RONCO DO PREFEITO QUE SEGURA UMA GARRAFA DE CACHAÇA EM UMA MÃO. ELE ESTÁ DORMINDO. LOGO ELE ACORDA COM O BARULHO DE ALGUÉM NA PORTA.

PREFEITO: Já vai! Já vai!

O PREFEITO ABRE A PORTA E ENTRA TINA, RAPOZA E CLOTILDA.

PREFEITO: Ox! O que vocês querem aqui?

TINA: Contar o que aconteceu ontem a noite homem de Deus!

RAPOZA: Você não pediu pra gente fazer cera lá na padaria? Porque o senhor devia testar lá! Mandou a Doutora, mas ela não resolveu problema nenhum!

PREFEITO: Como vocês sabem que eu mandei a Doutora?

AS TRÊS: A gente sabe de tudo!

PREFEITO: Deixa de conversa e me contem o que aconteceu pelo amor de Deus!

CLOTILDA: Te contar o que aconteceu pode até ser...

TINA: Pelo amor de Deus é que vai ser complicado...

RAPOZA: Amor de Deus está custando muito caro sabe seu Prefeito? Se o senhor não colaborar com amor a gente, Deus não vai te dar nada!
PREFEITO: É o que Ele iria me dar?

CLOTILDA: Informação!

O PREFEITO JÁ TIRA A CARTEIRA DO BOLSO.

PREFEITO: E quanto eu tenho que pagar por ela?

TINA METE A MÃO NO DINHEIRO QUE ESTÁ DENTRO DA CARTEIRA DO PREFEITO E GUARDA EM SEU DECOTE.

TINA: Sem resmungar seu prefeito! Tudo tem sem preço!

PREFEITO: Deixe de lero e fale logo!

RAPOZA: Está bem! A padaria pegou fogo, acabou de vez a era do pão e da fama do padeiro! Agora ele está vindo atrás de você tomar satisfação de porque você não foi ajudar ele de maneira mais produtiva!

TINA: Realmente! Se fosse minha casa que tivesse pegando fogo e o senhor mandasse a Doutora resolve o problema, eu ia vir aqui e te arrebentar os córnio!

PREFEITO: Olha o respeito Tina! Eu fiz isso pensando no bem de todos!

O PREFEITO TOMA UMA GOLADA DE CACHAÇA.

CLOTILDA: Sendo assim, nós estamos indo! E se eu fosse o senhor, chamava uma autoridade! Porque ou o padeiro te mata hoje...

PREFEITO: Ou...

AS TRÊS: Ou ele te mata amanhã!

AS TRÊS SAEM DA PREFEITURA E O PREFEITO ENTRA EM ESTADO DE CHOQUE. LOGO COMEÇA Á BEBER SEM PARAR.

PREFEITO: E agora meu padin ciço?O padeiro vai arrancar meu fígado, decepar meu estomago e corta meus rins!

O PREFEITO DA UMA GOLADA DE CACHAÇA.

PREFEITO: Não posso nem chamar aquele Cabo! Do jeito que aquilo lá é froxo corre só com o cuspe do padeiro! Ai meu Deus! O padeiro vai chupar o sangue de meus corações!

O PADEIRO CHEGA QUEBRANDO A PORTA. O PREFEITO NÃO PERCEBE.

PADEIRO: Pelo que eu saiba, o senhor só tem um!

PREFEITO: Mas ele arranca o outro! Aí meu padre ciço!

PADEIRO: O senhor tinha que ter tomado partido no incêndio de minha padaria! Agora eu vou fazer tudo isso que o senhor disse que eu ia fazer! Começando pelo rim!

O PADEIRO LHE APONTA A FACA.

PREFEITO: Alto lá! Seu padeiro! Que olhos vermelhos! E essas olheiras! O senhor não tem dormido não “home”?

PADEIRO: Passei a noite em claro esperando por esse momento!

O PADEIRO LHE APONTA A FACA NOVAMENTE.

PREFEITO: Mas aí é que está! O senhor seu padeiro, esperou ansiosamente por esse momento e vai fazer isso, um feito tão importante, tão cansado assim? Nada disso! Não vou permitir!

O PREFEITO VAI O ACOMPANHANDO ATÉ A PORTA.

PREFEITO: O senhor tome um banho, descanse, durma, coma alguma coisa, passeie de charrete, ande á cavalo, que faz bem pros músculos, visite seus parentes lá em Caprocó, volte, tome banho, descanse, durma, coma alguma coisa e depois o senhor venha e me mate! Estarei lhe aguardando!

O PREFEITO FECHA A PORTA NA CARA DO PADEIRO QUE VAI EMBORA. O PREFEITO DA UMA OLHADA NA JANEL E DEPOIS SUSPIRA. LOGO VOLTA Á CORRER E DIRIGI-SE AO TELEFONE.

PREFEITO: Alô! É da capital? Quem fala é o prefeito de Piraúna eu preciso de um delegado urgentemente! Não! Pro Alasca! Óbvio que é pra Piraúna! Quanto eu pago? Ninguém me disse que tinha de pagar por delegado! Então me vê ai o mais barato! Qual é o nome dele? Então manda esse logo! Mas é pra ontem ouviu moça?

FIM DE CENA.

CENA 3.
ESTRADA PARA PIRAÚNA. O NOVO DELEGADO E O CHARRETEIRO ESTÃO INDO PARA A CIDADE. DE
REPENTE O CAVALO EMPACA.

DELEGADO: Ox! Mais que diabo de cavalo é esse?

CHARRETEIRO: Ox foi isso mesmo que eu perguntei pra Jacira quando ela me apareceu com esse bicho filhote! “Jacira, que diabo de cavalo é esse?” Todo desnutrido pra você ter uma idéia...

DELEGADO: Não quero saber! Faz esse cavalo andar!

CHARRETEIRO: Esse é o pior diabo de cavalo pra fazer andar! Isso aí quando para tem que espera no mínimo meio hora pra andar de novo!

DELEGADO: Meia hora? Não posso esperar nem mais dez minutos cabra! Se esse cavalo não anda imediatamente eu arredo o pé daqui sozinho!

CHARRETEIRO: Mas pra que pressa pra chegar naquela cidade imunda, nojenta, sem vergonha, safada, só cabra bandido...

DELEGADO: Porque eu tenho pressa de mudar essa cidade pra uma cidade limpa, cheirosa, sem bandidagem, sem malandragem...

CHARRETEIRO: Já entendi! O senhor quer se candidatar á prefeito! Então não tem nada que reclamar do cavalo porque ele ainda ta no lucro de quatro anos!

DELEGADO: Se candidatar á prefeito nada! Eu to indo lá pra resolver esses problemas todos! Como delegado!

CHARRETEIRO: De quem?

DELEGADO: Eu sou um delegado!

CHARRETEIRO: Nunca ouvi falar no dono desse gado não! Ele é daqui de Piraúna?

DELEGADO: Não tem delegacia em Piraúna não?

CHARRETEIRO: A! Mais é claro! Você vai trabalhar na delegacia! Com a doceira! Vendendo doces!

DELEGADO: A doceira usa a delegacia pra vender doces?

CHARRETEIRO: Vende de todo gosto que o senhor possa imaginar! Você vai fazer as entregas?

DELEGADO: Vamos Charreteiro! Bote esse cavalo pra anda que agora eu fiquei com mais pressa ainda!

O CHARRETEIRO FAZ UMA “MANOBRA” COM A CORDA E BOTA O CAVALO PRA ANDAR.

CHARRETEIRO: Ih! Andou!

FIM DE CENA.



CENA 4.
TODOS ESTÃO REUNIDOS NA DELEGACIA PARA A NOMEAÇÃO DO NOVO DELEGADO.

PREFEITO: Cidade de Piraúna! Estamos todos reunidos aqui pra a nomeação do novo delegado! Por favor venha até aqui! Delegado!

DELEGADO: Estou sabendo da situação desta cidade! Isso aqui está horrível! Todos vocês não se respeitam! Não se aturam! Mas agora é o início de uma nova era! A era do delegado! Quem faltar com respeito ao próximo será punido!

DOÇEIRA: É verdade que você vai roubar meu ponto de venda de doces seu salafrário de uma figa?!

DELEGADO: Primeiro; respeite a autoridade!

DÉZIA: Aí cabou! Outro metido á autoridade!

DELEGADO: Segundo; Se a senhora não sabe, delegacia não foi feita pra vender doces, e sim pra prender gente! Quem foi a ignorante que te ensinou que se vende comida em delegacia?

PROFESSORA: Assim o senhor está faltando com respeito á minha pessoa! Eu sou a professora da cidade, e eu dou aula de tudo á todos, de modo que o senhor vai ter que se punir!

DELEGADO: Ficou maluca? Você ensina errado e quem tem que se punir sou eu? Você que deve ser punida! Vou te botar na chave!

D. NELI: Assim você falta com respeito á minha pessoa! “Vou te botar na chave”? Que linguajar horrível! Em Paris, Uma cidade belíssima na Turquia se você fala uma coisa dessas você é preso!

DELEGADO: Mas foi isso que eu quis dizer! Que ela seria presa!

D. NELI: Então diga! Você será presa! Eta! Santa Ignorância!

DELEGADO: Assim a senhora está faltando com respeito á minha pessoa!
PROFESSORA: Viu?! Como é ruim ser chamada de ignorante?

DOUTORA: Vamos parar com isso! Ele veio aqui pra ajudar!

DELEGADO: Vim pra ajudar e não preciso de ajuda!

DOUTORA: Assim o senhor falta com respeito a minha pessoa! Estou querendo lhe ajudar e você me trata desse modo?!

DELEGADO: Não confunda as coisas Doutora... Estou aqui para redimir vocês de seus pecados!

CABO: Por acaso o senhor é padre?

DELEGADO: O que disse?

CABO: Estou precisando me confessar!

DELEGADO: Isso por acaso foi uma piada? Porque se foi...

DÉZIA: Foi muito engraçada! To rindo até agora!

DELEGADO: Já chega! O próximo que desrespeitar alguém, vai ter!

DOCEIRA: Vai ter o que?

DELEGADO: Confusão! Circulando! Circulando!

TODOS SAEM. FICA SÓ O DELEGADO E O CABO.

DELEGADO: Nossa! Que gente difícil!

CABO: Agora que o senhor assumiu a patente de delegado e manda “nimin”, o senhor bem que podia autorizar de eu dar uma volta! Pra espairecer um pouco...

DELEGADO: Autorização negada!

CABO: Por que?

DELEGADO: Num sabe que eu to aqui pra mandar? Você ta aqui pra obedecer!

FIM DE CENA.

CENA 5.
O PREFEITO MAIS UMA VEZ ESTÁ DURMINDO COM UMA GARRAFA DE CACHAÇA NA MÃO. ELE É MAIS UMA VEZ ACORDADO COM BATIDAS NA PORTA.

PREFEITO: Já vai! Já vai! Eta cidadezinha “tranqüila” essa hein! Não da nem pra tirar um cochilo!

ELE ABRE A PORTA E VÃO ENTRANDO TINA, RAPOZA, CLOTILDA, DARLA E A DOCEIRA.

DARLA: Seu prefeito! Eu vim reclamar da doceira! Faz uma semana que ela levou uma encomenda de doces pra vender e não trouxe o meu dinheiro! Eu como uma cozinheira de qualidade, devo receber imediatamente pra comprar novos ingredientes, e fazer mais doces, pra que eu possa vender sozinha na delegacia!

TINA: Então minha filha você vai a falência e é já!

RAPOZA: Porque o seu prefeito deu o ponto de doce da delegacia pra um homem muito do estranho!

DOCEIRA: Então foi você que deu meu ponto pra aquele safado?!

PREFEITO: Mais ou menos!

A DOCEIRA VAI PRA CIMA DO PREFEITO QUE FICA NERVOSO.

DOCEIRA: A é? Pois vai apanhar bem muito!

CLOTILDA: Mas a culpa não é só dele não!

A DOCEIRA PARA. PREFEITO SE ACALMA

DOCEIRA: Então é de quem?

TINA: É do padeiro por ter ameaçado o seu prefeito de morte por o prefeito não ter acudido a padaria quando estava pegando fogo.

O PREFEITO VAI FICANDO MAIS NERVOSO.

PREFEITO: Como vocês sabem? Quer dizer! De onde vocês tiraram isso?

AS TRÊS: A gente sabe de tudo!

DARLA: E como eu fico? Vou ficar sem receber nada pelos meus doces?

DOCEIRA: E eu? Vou ficar sem vender meus doces?

PREFEITO: Eu não acredito que estou fazendo isso mas... Pode usar a prefeitura...

O PREFEITO TOMA UMA GOLADA DE CACHAÇA. NISSO ENTRA AOS BERROS A GINAH.

GINAH: Oxente! Aconteceu uma coisa com a Dézia! Vocês se lembram que ela faltou com respeito ao delegado estranho? Ela virou uma vaca!

TODOS: O que?

FIM DE CENA.

CENA 6.
DELEGACIA. TODOS PEDEM AO DELEGADO PARA QUE DÉZIA VOLTE AO NORMAL. ESTÁ O MAIOR TUMULTO.

DELEGADO: Oxente! Eu já não estou entendendo mais nada! Pelo que eu sei, ninguém gostava dela, ela tratava mal á todos, agora vocês querem ela de volta? Porque?

PROFESSORA: Ela divertia Piraúna!

DOUTORA: E conhecia um monte de história!

DOÇEIRA: E adorava os meus doces!

GINAH: Ela era minha patroa! Nunca me pagava... Mas era minha patroa!

DELEGADO: Posso até trazê-la de volta, mas vocês vão ter que me prometer que irão dar valor á ela! Irão respeitá-la...

CABO: Isso se ela nos respeitar também!

DELEGADO: Tenho certeza que com essa história toda ela vai ter aprendido á respeitar vocês!

DARLA CHEGA GRITANDO NA PREFEITURA.

DARLA: Roubaram os meus doces!

DELEGADO: Vamos todos juntos descobrir quem foi!

TODOS: Todos juntos?

DELEGADO: Mas é claro! A Darla não faz os doces pra ela... Faz os doces pra vocês! Então vamos todos descobrir quem foi e depois eu trago a Dézia de volta!

D. NELI: Eu não vou a lugar algum! Está um calor estrondoso! Eu não vou usa o meu hobby pra sair procurando ladrão nesse deserto!

DELEGADO: O que é hobby?

D. NELI: É sapato em francês!

PROFESSORA: Correto! Nota 10!

PREFEITO: Então vamos nos dividir pra achar esse ladrão! Eu fico na prefeitura comendo os doces da doceira e bebendo minha pinga e você vão pro outro lado!
DELEGADO: Prefeito!

PREFEITO: Ta bom! Vamos!

FIM DE CENA.

CENA 7.
TODOS ESTÃO VINDO COM O LADRÃO PRESO DE AS ALGEMAS. O DELEGADO ESTÁ COM AS MALAS EM SUA MÃO.

DELEGADO: Viram? Juntos conseguimos pegar esse ladrão rapidamente!

LADRÃO: Assim o senhor ta me faltando com respeito! Dizendo que eu não sou digno de patente de ladrão! Vou atrás dos meus direitos!

TODOS: Cala a boca!

DÉZIA: Eu pelo menos aprendi uma lição! E não foi com a burra dessa professora!

PROFESSORA: Como é que é?

DÉZIA: To brincando minha filha!

DELEGADO: Todos nós aprendemos uma lição hoje...

LADRÃO: Eu também aprendi uma lição! Nunca mais ir pra direita, se todos vem Dê-la!

DELEGADO: Agora você está preso! E vocês não precisam mais de mim!

PREFEITO: Como não? E se o padeiro voltar?

DELEGADO: Você tem uma cidade pra te defenderJá fiz o que tinha de fazer! O que me importa é que vocês aprenderam uma lição! Eu sei que aprenderam!

TODOS APLAUDEM O DELEGADO QUE SAI JUNTO COM O CHARRETEIRO.
FIM DE CENA.

CENA 8.
O CHARRETEIRO E O DELEGADO ESTÃO VOLTANDO DE CHARRETE E O CAVALO EM PACA.

DELEGADO: De novo não!

BLECAUTE (ESCURIDÃO)

FIM.


por alberto szafran.


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o casamenteiro.

CENA 1. INTERIOR/ ESCRITÓRIO DE AUGUSTO/ DIA.
A câmera abre em um quadro com a imagem de Santo Antonio que está localizada atrás da mesa de trabalho de Augusto. Nesse mesmo quadro reparamos no letreiro: “Santo Antonio Casamenteiro das Causas Perdidas”. Nesse mesmo movimento a câmera vai abrindo lentamente e já podemos perceber Augusto e Rosane. Ele em torna de uns trinta e cinco anos e ela em torno de uns sessenta. Ele em sua mesa e ela à frente sendo atendida pelo mesmo. Em toda ação é evidente como eles conversam com extrema seriedade.

ROSANE – Filha minha não casa com filho de jogador.

AUGUSTO – Engraçado... Eu achei que esse fosse o pretendente que você mais ia gostar.

ROSANE – É... Mas eu tive uns problemas com jogo na minha família e peguei um certo trauma, sabe?

AUGUSTO – Perfeitamente, mas o fato do pai ser jogador e ter perdido tudo em uma mesa de pôquer em Mar Del Plata, não quer dizer que o filho é jogador e vai perder tudo em uma mesa de pôquer...

ROSANE – É, mas cada vez que eu olhar pra cara dele eu vou me lembrar do meu pai perdendo tudo em uma mesa de pôquer... Carro, casa, filha... Enfim, Não existe outro pretendente?

AUGUSTO – Existir? Existe, mas o plano que você vai pagar não lhe dá muita opção de escolha... E você tem que pensar que todo mundo tem um defeito... Só que a nossa corporação se propõe a mostrar esse defeito antes do casamento!

ROSANE – Claro que sei... Mas será que você não encontra aí no seu arquivo alguém que não tenha possibilidade de ser preso?

AUGUSTO – Olha aí eu acho difícil porque se bobear até a senhora tem motivo pra ser presa, com todo respeito! Eu só não acredito que os homens que procuram a nossa agência sejam tão bom elementos assim. Mas eu posso ver pra senhora, os melhores pretendentes dentre os candidatos do seu plano de pagamento.

ROSANE – Faça isso, por favor!

Augusto abre uma gaveta e tira uma pasta branca bem grande. Ele começa a procurar e tira rapidamente uma ficha de inscrição (já preenchida).

AUGUSTO – Esse aqui é interessante! Pseudônimo: “Rominha”.

ROSANE – Me fala um pouco mais sobre ele!

Augusto vai lendo a ficha.

AUGUSTO – Claro! 1,85 de altura, alvo, forte, olhar sedutor... A propósito, foi ele que preencheu a ficha... Eu só leio.

ROSANE – Naturalmente!

AUGUSTO – Retomando, Situação financeira estável, (vai falando lentamente, como se estivesse mastigando as palavras) e duas passagens pela polícia.

ROSANE – Pelo o que?

AUGUSTO – Apropriação ilegal de imóveis e lavagem de dinheiro.

ROSANE – Ah! Não é tão pesado assim... E hoje em dia ele faz o que?

AUGUSTO – Ele falsifica vodka. Que por um lado é bom porque de sede a sua filha nunca vai morrer, mas por outro lado é ruim, porque ela pode morrer de cirrose.

ROSANE – É verdade... Você não tem alguma coisa que de mais dinheiro ou até seja mais tranqüilo? Como CPI, Mensalão...

AUGUSTO – Olha, eu até tenho, mas vai além do plano que você pode pagar.

ROSANE – Quanto mais eu tenho que pagar por um plano mais caro?

AUGUSTO – O próximo plano é o Simple Married Plus. Você está no plano Simple Married. O que daria uma diferença de... (Augusto pega a calculadora e faz as contas) cento e setenta e cinco reais. Pouca coisa...

ROSANE – É mais pra quem já pagou mais duzentos e noventa reais pelo Simple Married sai um pouquinho caro, não é? Mas vamos lá... Abre essa pasta!

AUGUSTO – Você sabe que pra eu abrir uma pasta, somente mediante pagamento.

Rosane da um suspiro e retira da carteira cento e setenta e cinco reais, entrega a Augusto. Ele confere e coloca o dinheiro dentro da gaveta. Abre a gaveta de baixo e tira uma pasta um pouco menor que a primeira de cor amarela. Já abre essa pasta e retira um punhado de fichas de inscrição. Enquanto isso, Rosane vai falando.

ROSANE – Seria tão mais fácil que ela tivesse encontrado por si só... Mas imagina, trinta e seis anos e nunca teve um homem! Homem está realmente difícil...

AUGUSTO – Pois é... Se tivesse fácil eu estaria desempregado! Vamos lá... Eu tenho um ótimo aqui!

ROSANE – Q            uem?
 AUGUSTO – Pseudônimo: Angel. (lendo) “Pareço um anjo exuberante que acaba de levantar vôo em direção ao infinito”.Olha, ele é poeta! “Sou extremamente inteligente, tenho cursos no exterior e sou muito bem de vida”. Meu pai é bicheiro...

ROSANE (interrompendo) – Eu já falei que filha minha não casa com filho de jogador!

AUGUSTO – Eu acho sinceramente, que a senhora está sendo muito radical! O pai dele é bicheiro, ele não perde dinheiro, a não ser é claro que a polícia o pegue, mas fora isso, são as pessoas que dão dinheiro pro pai dele, de certa forma.

ROSANE – É, vai ver o meu pai deu dinheiro pra ele...

AUGUSTO – É vai ver deu mesmo... Mas vamos ao último por hoje, que o tempo da senhora já está esgotando e eu tenho outra cliente aguardando!

ROSANE – Vamos ao último então, espero ter sorte!

Augusto pega a última ficha.

AUGUSTO – Vulgo: “O Homem da Luz”. Alto, forte, bonito. Olhos claros, cabelos curtos e negros. Possui um bom jeito com as mulheres e uma excelente situação financeira! Dono de uma clínica...

ROSANE – Jura?

AUGUSTO – De aborto... Dono de uma clínica de aborto... É dona Rosane... Parece que o dia hoje não esta muito bonito!

ROSANE – Pois é... É só isso que você têm?

AUGUSTO – Por hoje sim, dona Rosane. O tempo da senhora já acabou e eu tenho outra cliente me esperando...

ROSANE – Tudo bem... Eu vou pensar direitinho e depois falo com o senhor... Pode ser assim?

AUGUSTO – Com certeza!

Rosane sai. Corta para:
CENA 2. INTERIOR/ SALA DE ESPERA DA AGÊNCIA/ INTERIOR.
Assim que Rosane sai, ela da de cara com Dora, que já esta em pé pronta para passar da porta.

DORA – Mãe?!

ROSANE – Filha?! Que você está fazendo aqui?

DORA – Que você ta fazendo aqui? Eu posso vir aqui, eu sou solteira! Você, que até onde eu sei, que não deveria estar aqui! Você é casada! Muito bem casada!

ROSANE – Eu não vim aqui por mim não! Vim aqui por você!

DORA – Por mim? Por que por mim? Eu não preciso da sua ajuda não, mãe!

ROSANE – Da minha não! De um casamenteiro! Isso sim que você precisa! Onde já se viu? Quase quarenta anos e não conseguiu arranjar um marido!

DORA – Ai mãe! É verdade! Quem eu estou enganando? Eu preciso de ajuda! Senão eu não vou conseguir um marido nunca! E você encontrou alguém?

ROSANE – Ninguém filha... Só pretendente mau-caráter!
DORA – Qual plano você está pagando?

ROSANE – Eu comecei no “Simple Maried”, mas agora eu passei pro “Simple Maried Plus”.

DORA – Mãe? Tudo que eu estou valendo pra você é um plano “Simple Maried Plus”?Que miséria!

ROSANE – Ah filha! Eu não ando com tanto dinheiro assim na carteira! Aliás, eu não sabia que o “Simple Maried Plus” era tão ruim assim...

Nesse momento, Augusto sai da sala.

AUGUSTO – A senhora está aqui, ainda?

ROSANE – Eu encontrei a minha filha!

AUGUSTO – Não diga! Dora é a sua filha?

DORA – Sim...

AUGUSTO – Bom, podemos então?

ROSANE – Eu infelizmente não vou poder ficar... Eu tenho hora! Mas depois você me conta tudo, ouviu Dora?

DORA – Conto sim mãe! Vai com Deus e obrigada pela força!

Nesse momento entra na sala de espera o Rominha. Bastante diferente de sua descrição na ficha. Ele olha para Dora, ela olha para ele e os dois ficam encantados.

ROMINHA – Oi.

DORA – Oi.

ROMINHA – Rômulo. Mas pode me chamar de Rominha.

ROSANE (estarrecida) – Rominha.

DORA – É mãe! Rominha! Prazer, eu sou Dora!

ROSANE (para Augusto) – Ele é um pouco diferente da descrição, não é não?

Augusto tira a pasta embaixo do braço e retira a ficha de Rominha.

AUGUSTO - 1,85 de altura, alvo, forte, olhar sedutor... É, não parece ele mesmo não.

ROMINHA (para Dora) – Você vem sempre aqui?

Dora fica vermelha.

ROSANE – Filha, eu vou indo...

DORA – Vai mãe... Depois eu conto...

Augusto vai cautelosamente até Rosane, que já está saindo.

AUGUSTO – Dona Rosane.

ROSANE – Sim?

AUGUSTO – No caso dos dois ficarem juntos, a senhora vai ter que completar o pagamento!

ROSANE – Por que? Eles se conheceram por acaso!

AUGUSTO – Mas se conheceram dentro da nossa agência. Sem falar, que a senhora sabe o podre dele...

ROSANE – É verdade... Eu pago como?

AUGUSTO – Queira vir pra minha sala e eu passo pra você todas as informações...

ROSANE – Não, mas eu tenho que...

AUGUSTO – É rapidinho, dona Rosane, prometo que não vai demorar!

Rosane vai com Augusto a sua sala, enquanto Dora e Rominha ficam se admirando na sala de espera.
FIM.


por alberto szafran.