sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

artigo 7 - vozes que se calam.

                No que se refere á questão da Palestina, eu sempre escutei pessoas falando em “vozes”. “Vozes” que não são ouvidas. “Vozes” que precisam ser escutadas. E o que mais me intriga é quando um representante de uma população fala sobre as “vozes” do seu povo. Eu me pergunto se a população ao qual ele representa compartilha da mesma opinião que ele, ou se o mesmo quer convencer a população daquilo que ele fala.
Outra coisa que também não entendo, é que pessoas querem que suas “vozes” sejam escutadas, mas falam ao mesmo tempo. E ao invés de ouvirmos suas “vozes” escutamos um barulho ensurdecedor.
Então, quando ouço de pessoas que “vozes” precisam ser escutadas, eu faço em minha cabeça um retrocesso e me vejo no ano de 1939. Adolf Hitler disse em um de seus discursos que a voz da Alemanha precisava ser escutada.  E foi. Naquele ano, a Alemanha começava uma guerra que matou cerca 72 milhões de pessoas, entre elas 6 milhões de judeus.
3 anos após o término da guerra, a ONU, declarou a Resolução 181; que decretava que a Palestina deveria ser partilhada entre um estado judeu e outro árabe. Os árabes nãos e deram por satisfeito e resolveram que suas “vozes” deveriam ser ouvidas. Invadiram o recém-criado estado de Israel um dia depois de sua independência. Egito, Síria, Jordânia, Arábia Saudita e Líbano se unem para derrotar o exército israelense. Suas “vozes” foram ouvidas, mas acredito eu, que não da maneira como eles imaginavam. Morreram israelenses, morreram. Mas morreram árabes também. Em 1949 a guerra acaba com Israel expandindo as suas fronteiras. Israel achou que essa fosse a última vez que “vozes” teriam que ser ouvidas. Mas não as “vozes” estavam apenas começando.
                Começou o boicote árabe a Resolução 181. A liga árabe condenava quem fizesse negócios com Israel. Econômicos, políticos, sociais e culturais. Secretamente, alguns lideres árabes tentaram fazer negócios com Israel. Tragicamente um deles morreu assassinado em Jerusalém no ano de 1951, o rei Abdullah da Jordânia.
                Outra questão que me intriga é que nessa época a Liga Árabe era formada por sete países. Sua área no total correspondia á 4.403.347 quilômetros quadrados. O estado de Israel era ma época 217 vezes menor do que a Liga Árabe. E continua sendo.  Quando a guerra de 48 terminou, nenhum palestino era bem vindo em nenhum país a não ser dois, que cederam cidadania ao povo palestino; Jordânia, que é um país árabe e Israel, que na é.
                Todos os países árabes dizem que a “voz” dos palestinos precisa ser escutada, mas desde 48, pelo menos, nem um país árabe pára pra escutar a “voz”deles.
                O que levou meu pensamento á 1967. A “voz” dos árabes mais uma vez tinha que ser ouvida.  O Egito, a Síria, a Jordânia e o Iraque iniciaram com o apoio do Kuwait, da Arábia Saudita, Argélia e Sudão, a guerra que seria a mais massacrante e desastrosa para os árabes.  Israel ganhou a guerra em seis dias. Aumentou suas fronteiras até o Sinai, a Cisjordânia e as Colinas do Golan, ao norte. Muitas vozes sim foram ouvidas, mas caladas em seguida.
                1972. Olimpíadas de Munique. A delegação israelense inteira é morta em um atentado terrorista, para que as “vozes” dos árabes fossem ouvidas. E foram. A olimpíada, a propósito, continuou.
1973. A “voz” dos árabes é escutada quando invadem Israel durante o Yom Kipur. Data religiosa e sagrada para o povo judeu. A guerra resulta, com felizmente, uma voz positiva. O Egito assina o acordo de Camp David e se torna o primeiro país árabe á reconhecer o Estado de Israel. Em 1982, No sul do Líbano, A Organização de Libertação da Palestina começa os ataques ao norte de Israel. Mais um conflito se desencadeia e Israel invade o Líbano. Nesse ano, os próprios libaneses com o consentimento se Israel, invade os campos de Sabra e Chatila aniquilando todos os refugiados palestinos que ali se encontravam.
Isso me trouxe á um episódio mais recente: 2006, Guerra do Líbano. Mais vozes, mais vozes e mais vozes. É por conta desses conflitos que eu acabei de relatar, que quando eu escuto que “vozes precisam ser escutadas” eu confesso á vocês que eu fico um pouco preocupado.
Toda vez que o representante de um país diz que o mundo precisa escutar a sua “voz”, o seu povo morre ou ele gera a morte de algum outro, quando não é os dois.
Nós banalizamos tanto a morte, que não paramos pra pensar no silêncio que elas nos trás.
Durante a primeira intifada, o povo palestinos cantava uma música que a letra dizia mais ao menos isso:
"Palestina é a nossa casa
Nós nascemos aqui
Nós vivemos aqui
Nós amamos aqui
Não odiamos ninguém, mas desprezamos a injustiça
Na paz acreditamos, pela liberdade nós lutamos
Nós temos o direito de viver em paz em nossa Palestina”
E os judeus também têm o direito de viver em seu Israel.
Por que um povo precisa ser dizimado para que outro povo precise viver? A minha voz se calará e eu nunca ouvirei a resposta.
Nesse momento, você se pergunta o que isso tem a ver com o Brasil e eu te respondo que tem tudo a ver. Pois enquanto houver um único judeu morando no Brasil. Esse problema também será nosso.




por alberto szafran.




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